sábado, 1 de agosto de 2015

Dólar. Por que sobe?


Para entender bem o motivo que leva o dólar a disparar, é necessário entender a economia global. É um saco, ter que ler todo o resto da economia para melhor compreender, mas é necessário. Então, vamos lá!

Déficit primário

É isto que você leu, "déficit primário", não mais "superávit primário" que antevejo nas contas fiscais deste ano. Faz poucos dias, o ministro do Planejamento Nelson Barbosa anunciou a mudança de meta do superávit primário de 1,3% para 0,15%, no entanto não alcançará a meta. Isto vai mexer significativamente na vida do povo brasileiro, mais do que possa imaginar. 

Apesar do esforço do ministro Joaquim Levy da Fazenda em tentar encontrar o equilíbrio nas contas fiscais, entre receitas e despesas do governo da União, o resultado divulgado de déficit primário de R$ 9,3 bilhões em junho, é o pior da série histórica, que teve início em 2001. 

Isto nos leva a fazer projeção de "déficit primário" em dezembro deste ano ao invés de "superávit primário". A conta só fechará com "superávit primário" se o Ministério da Fazenda fizer, novamente, as "pedaladas fiscais" ou que a Dilma mande Medida Provisória mudando o critério de cálculo das contas fiscais. De qualquer forma, ambas medidas são repugnadas pela comunidade financeira internacional.

A crença desta situação faz os empresários pequenos e médios deixarem de pagar os impostos para própria sobrevivência, em função da retração da economia sentida sobretudo no último trimestre e exacerbada no mês de julho que terminou ontem, dificultando mais ainda o cumprimento da meta prometida.

A agência de classificação de riscos Standard & Poor's já tinha rebaixado a nota do Brasil para o último degrau do "grau de investimento". Ainda, a S&P afirmou que os brasileiros estão sujeitos a perder seu tão acalentado status de "bom pagador" se não se emendarem. Infelizmente, o Brasil não se emendou. Inevitavelmente, se o País apresentar as contas fiscais no vermelho ou seja com "déficit primário", a nota do Brasil será rebaixado para o "grau de especulação". 

Dólar

Com o temor do Brasil fechar as contas fiscais em "déficit primário", nas últimas semanas, há movimento de fuga de capital estrangeiro do País, trazendo consequente desvalorização do real ou valorização do dólar. O dólar fechou o mês de julho a R$ 3,42. No mês de julho subiu 10,16%. E a tendência é de alta.

O estoque de dólares especulativos, aplicados em título do Tesouro Nacional, é estimado em cerca de US$ 250 bilhões equivalente a cerca de R$ 850 bilhões. O volume é estimado, pois o Banco Central não divulga em seu site oficial. Este volume de dólares é "volátil", tanto pode aumentar como diminuir, conforme o componente "confiança ao governo". A saída do dólar é justificado pela perspectiva de rebaixamento da classificação do risco do Brasil para "grau de especulação". 

A fuga de capital é decorrente da possibilidade de País não conseguir gerar o "superávit primário", que em tese é dinheiro para pagar, pelo menos, parte dos juros. Voltem ao item "Déficit primário" para entender o temor do capital estrangeiro especulativo. Observem, também, o volume de dólares que poderá sair do País, no parágrafo anterior. Se a coisa está feia, poderá ficar ainda mais.

Diante dos números apresentados, podemos afirmar que o movimento de alta do dólar será contínuo nos próximos dias. Claro que poderá haver alguns dias de acomodações, mas a tendência de alta é nítida. Em 20 de fevereiro passado, este blog previu que o dólar iria fechar o ano no intervalo entre R$ 3,50 a R$ 3,60. 

A previsão reajustado para o final do ano é moeda americana estar cotado acima de R$ 4,00. Neste patamar, o Banco Central deverá intervir com emissão de novas "swap cambial tradicional", como já foi feito no passado. Até onde o Banco Central tem força para segurar a cotação, não sabemos. É provável que o Banco Central tenha que "queimar" a reserva cambial que em 30/7 estava em US$ 370 bilhões. 

Aumento de combustíveis

Com tendência de dólar em escalada altista, é inexorável o aumento de combustíveis nos próximos meses, possivelmente no mês de setembro. A estimativa é que o aumento fique em torno de 10%, embutindo possível aumento da CIDE. 

O aumento de combustíveis por sua vez, traz aumento generalizado de produtos, trazendo inevitável efeito cascata para demais setores da economia. Aumentar combustíveis é como botar gasolina na fogueira, literalmente.

Inflação.

O parque industrial brasileiro definhou nos últimos 13 anos do governo do PT. O setor industrial que representava no final do governo FHC, cerca de 26%, hoje não representa mais do que 12% do PIB. Razão pela qual, o Brasil importa de tudo, desde feijão preto aos produtos manufaturados. 

Com a alta do dólar, é inexorável que a inflação vai chegar nos supermercados. A carne vai subir porque o preço é regulado pelo preço de exportação, mais alta em real devido a alta do dólar. O pão vai subir porque o trigo é importado. E assim vai. O "aumento de combustíveis" já foi explicado acima. Diante do quadro, a inflação em algum momento, ainda este ano, deverá ultrapassar os 10% (dois dígitos). Reviso minha projeção para a inflação no fechamento do ano, ligeiramente abaixo de dois dígitos.

Selic.

A atual taxa de juros básicos Selic de 14,25%, em algum momento, ao contrário do que o governo afirma, poderá ultrapassar os 18%, para tentar conter a fuga de capital estrangeiro especulativo. Isto é matemática, como 2 mais 2 é igual a 4. Isto é um quadro possível, basta dólar ultrapassar os R$ 4,00 no curto prazo.

Lembrando que o Banco Central já pagou Selic de 45,67% no auge da crise da flexibilização da banda cambial em 1997, no governo FHC, tudo é possível. A este tipo de quadro podemos denominar de "crise cambial". Brasil poderá viver a crise cambial, nos próximos meses. Ninguém sabe quando começa e nem quando termina. Isto gera incerteza generalizada. O País pára, literalmente.

Tem solução?

Diante da falta de credibilidade do governo Dilma, com índice de aprovação abaixo de 10%, é impossível prever como termina a crise. A crise política que vive o País, exacerbada agora, com queda de braço entre a presidente Dilma e presidente da Câmara dos Deputados, influi diretamente na credibilidade do governo. O governo Dilma vem sofrendo as consequências decorrentes da Operação Lava Jato e por conta da administração desastrada do primeiro mando. 

Só há uma maneira de resolver a situação. Renúncia ou impeachment da Dilma e consequente convocação de novas eleições para o cargo de presidente e vice-presidente da República. Pior do que está não fica, qualquer um que seja eleito presidente da República. Logicamente, exclui nesta hipótese a eleição do ex-presidente Lula da Silva, comprometido até o último fio do cabelo à Operação Lava Jato.

Infelizmente minhas previsões se confirmam, o mês de agosto e o de setembro será negro para o Brasil. Eu estou com 71 anos de vida e nunca tinha passado por um quadro semelhante. Nem os piores momentos do Plano Cruzado ou do Plano Collor, foi tão negro como os de hoje.



Desse jeito, não dá!


Ossami Sakamori













3 comentários:

Anônimo disse...

Caro professor Sakamori,

Tenho a sua idade e vivi todos os fatos que o pessoal da nossa idade viveu.
Realmente é assombrosa a situação do Brasil,com a população sofrendo especulação,em todos os sentidos da economia doméstica e pessoal.Ninguém sabe exatamente o que fazer e,na dúvida,pára.Parando a tendência é piorar,em relação aos que se deslocam.Até quando viveremos sob o manto da mentira travestida de verdade e sem ter alguma força política comprometida com a nação? Será que a Venezuela já se mudou para cá e não ficamos sabendo (ao menos oficialmente)?Meu Deus!

Dimas disse...

Com o tempo se não cuidarmos das informações, elas se perdem na importância e na intensidade. No passado, antes do ano 2000, antes de ajustes para reestruturar um pouco o País, feitos por FHC, o Brasil era muito vulnerável. Movimentos especulativos, crises internas e ou externas tinham seus efeitos ampliados.
Eu também vivi os tempos passados como um médio empresário, e posso dizer que o mercsdo era uma louca gangorra. Eram menos previsíveis e mais intensas as mudanças de rumo, que hoje. Sem que eu esteja minimizando a crise atual. Porém com o Lula, do segundo mandato em diante gastando irresponsavelmente, Dilma idem, era notório que chegaríamos neste ponto. Parabéns amigo Sakamori pela sua abordagem e explanação.

virginialeite.blogspot6.com. disse...

Sou pouco mais velha que você e também vivi todos os "desastres " por que o país já passou , porém , esse é o pior deles pois não temos como saber para onde e como caminharemos para reverter essa calamidade sem fim .Sobe tudo , só não sobe o salário e a aposentadoria do povo .